AUDIODESCRIÇÃO: Uma alternativa para enxergar o mundo
Ana Wilma Silva dos Santos
anawilmasspedrofilho@gmail.com
A
audiodescrição é um recurso de acessibilidade que possibilita a inclusão de
pessoas com deficiência visual a participarem da cultura e da informação gravados
ou ao vivo, como por exemplo, teatro, cinema, seminários, congressos,
palestras, musicais, programas de televisão entre outros, através de informação
sonora. Transforma o visual em verbal, segundo MOTTA et al (2010), é uma
atividade de mediação linguística, uma modalidade de tradução intersemiótica,
[...] abrindo possibilidades maiores de acesso à cultura e à informação,
contribuindo para a inclusão cultural, social e escolar.
Trata-se
de um instrumento para as pessoas com deficiência visual, no entanto, todas as
pessoas podem se beneficiar com o uso desse recurso, pois ele amplia também o
entendimento de pessoas com deficiência intelectual, idosos e disléxicos.
Descrição
de tira cômica
Legenda: TIRAS
DA TURMA DO XAXADO: ELEIÇÕES
Descrição: A
tirinha colorida, com 3 quadros, mostra duas pessoas sentadas, uma de frente para outra sendo uma homem e
uma mulher, entre ambos uma mesa redonda,
sobre a mesa uma toalha de cor lilás e uma bola de cristal. O homem,
magro, alto, desdentado e barbudo, chame-se Genuíno, vestindo camisa azul claro,
a calça azul num tom mais escuro, colete de couro de cor marrom, segurando um
chapéu de couro nas mãos, porém encostado contra o peito. A mulher é uma cartomante, gorda, veste um
vestido verde claro, lenço lilás sobre a cabeça, um par de brincos e pulseira
amarelos. Suas falas estão dentro de balões.
Q1 – A mulher com os olhos
em direção a bola de cristal diz: genuíno, tu vai ocupar um cargo de muita responsabilidade antes do fim do ano!
Ele responde: Eu sabia!
Q2
– A mulher ainda diz: pessoas tomarão importantes decisões, mas antes passarão
por tu! Ele, entusiasmado diz: Vixi! Vô me dá bem!
Q3
– Fora do local (tenda) onde se encontrava, Genuíno encontra um homem trajando
calça azul, camisa e boné amarelos, sapato de cor marrom e a tiracolo uma bolsa
de cor lilás, na mão esquerda um envelope de papel, no caso um carteiro. Ainda
no mesmo quadrinho aparece Genuíno com uma carta nas mãos, surpreso, diz:
Disgrama! Vô sê mesário nas eleição!
Os
possíveis usos pedagógicos dessa atividade são de grande relevância para os estudantes
com deficiência visual. Ao propor uma
aula audiodescritiva o professor possibilita o aluno com deficiência visual a
fazer a representação pelo pensamento, aproximando-o dos eventos, neste caso o
da tirinha supracitada.
Na
descrição das características físicas e psicológicas das personagens, a
descrição do ambiente, entre outros aspectos importantes presentes no texto
visual, que será transposto para o verbal, possibilita o estudante a acompanhar
as ações, o que acontece com as personagens, relacionar a história com eventos
que geralmente podem ser em partes reais, ou fantasiosas, entender a mensagem e,
ao final expressar sua opinião, desse modo manifesta-se à aquisição de
conceitos. Nesse sentido, “[...] O verdadeiro conceito é a imagem de uma coisa
objetiva em sua complexidade.” Vygotsky (1934/1996).
No
seu trabalho sobre a “Formação de conceitos em crianças cegas” Batista (2005), mostra
precisamente a definição do termo “conceito”,
utilizado por Vygotsky, afirma que:
“[...] Apenas quando chegamos a conhecer o
objeto em todos os seus nexos e relações, apenas quando sintetizamos verbalmente
essa diversidade em uma imagem total mediante múltiplas definições, surge em
nós o conceito.” (Vygotsky, 1934/1996, p. 78).
Nesse
sentido, a representação pelo pensamento possibilita a aproximação do estudante
com as ações do objeto representado, neste caso as ações dos personagens da
tirinha. Essa representação é influenciada na proposta de trabalho desenvolvida
por Motta e Filho (2010), a “Audiodescrição: transformando imagens em palavras”.
Esse
conjunto de estratégias audiodescritiva com a mediação linguística ou intersemiótica
é um interessante instrumento didático, é uma atividade que também pode ser
desenvolvida com toda turma no contexto da sala de aula comum. Desse modo,
todos se beneficiam do uso desse recurso facilitador que amplia o acesso à
cultura e à informação, contribuindo consideravelmente para a inclusão
cultural, social e escolar.
Pois,
tem como objetivo estimular a memoria para compreender e explicar os fenômenos
ao seu redor conferindo autonomia às pessoas com deficiência que dela
necessitam.
Motta
e Filho (2010), p.13-14) consideram em seus relatos a fala de Letícia Schwartz
ao dizer: "Audiodescrever me deixa feliz. Simples assim. Discutir
metodologias e sistemáticas, assistir a um mesmo filme até quase conhecê-lo de
cor, estudar e me informar sobre assuntos que não domino para melhor
compreender as imagens. Garimpar palavras que correspondam exatamente àquilo
que quero descrever, cortar-ajustar-encaixar narrações nos espaços disponíveis
como quem monta um quebra-cabeça. Ouvir o filme de olhos fechados e perceber
que ele se torna compreensível". (2010, p.13-14).
REFERÊNCIAS
Endereço da Internet
BATISTA, Cecília
Guarnieri. Formação de conceitos em crianças cegas: questões teóricas e
implicações educacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2005, Vol. 21 n. 1, p.
07-15. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v21n1/a03v21n1.pdf.
Acesso em 10/11/2013.
MOTTA, Lívia Maria Villela
de Mello; FILHO, Paulo Romeu (Org.). Audiodescrição: transformando imagens em
palavras. São Paulo: Secretaria do Estado dos Direitos das Pessoas com
Deficiência, 2010. Disponível na opção LIVROS do site:
www.vercompalavras.com.br.Acesso em 01/11/2013.