A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS: "UMA POSSIBILIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SÓCIOCOGNITIVAS"
Justificativa
Na perspectiva inclusiva, a prática de intervenção pedagógica na escola comum consiste em reconhecer as diferenças dos alunos diante do processo educativo, buscando a participação e o progresso de todos. Assim, garantir maior equidade, desenvolvendo no ser humano valores e atitudes de solidariedade, bem como assegurar às pessoas com Necessidades Educacionais Especiais–NEE a sua integração e participação na sociedade.
Seguindo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof. Laércio Fernandes Monteiro situada no Município de Natal/RN, no turno vespertino do ano de 2012 matriculou no atendimento educacional especializado–AEE, condicionada à matrícula do ensino regular, 13 alunos com Necessidades Educacionais Especiais–NEE.
Tendo em vista os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais – NEE e que ainda não se encontravam alfabetizados, como estavam impossibilitados de aprender e de participar nos espaços comuns de aprendizagem, sentimos a necessidade de fazer um trabalho que suplementasse as suas formações.
No entanto, mesmo que de forma lenta, o grupo apresenta os seguintes desenvolvimentos em relação à Lectoescrita:
• Interpretação de Fragmentos da linguagem escrita;
• Relação entre desenhos e textos;
• Relação entre letras e números;
• Interpretação do nome próprio;
• Conhecimento das letras.
Considerando as habilidades até então desenvolvidas pelos educandos, bem como as dificuldades apresentadas em relação ao sistema de escrita e também por apresentarem transtornos da linguagem, que afetam a expressão e compreensão, ficam em desvantagens em relação aos alunos ditos normais. Nessa compreensão, o trabalho consiste em aspectos relacionados à aquisição da linguagem escrita com foco na mediação em leitura, uma vez que esse processo pressupõe a utilização de várias capacidades intelectuais, bem como aspectos da psicomotricidade.
Acreditando nas potencialidades e possibilidades dos alunos com NEE, consideramos que esse projeto poderia contribuir de forma significativa com a aprendizagem da leitura e da escrita.
Mesmo apresentando ausência de constância em seus esquemas de interpretação. Foi notório que os alunos com NEE são capazes de fazer construções a partir da utilização de capacidades intelectuais, como a classificação, a associação e a generalização.
Considerando as peculiaridades de cada aluno, a organização do AEE deu-se de forma individual e em duplas, duas vezes por semana com uma hora para cada aluno assistido. Na elaboração do plano de atendimento, foi definido o tipo de atendimento de acordo com as dificuldades e potencialidades do aluno.
Os recursos utilizados foram: materiais didáticos e pedagógicos acessíveis (livros de literatura, jogos táteis, em LIBRAS, dicionário em LIBRAS, entre outros); prancha de comunicação; materiais confeccionados pela professora como textos transcritos, materiais didáticos pedagógicos adequados, textos ampliados, gravação dos próprios alunos “lendo” textos, confecção de livro de conhecimento para ser utilizado na sala de aula comum; e alguns materiais adaptados tais como: engrossadores de lápis feito com espuma e plano inclinado feito com madeira.
Os resultados do trabalho mostram que todos são capazes de aprender, mas é preciso saber ensinar. Nessa dinâmica, o professor mostra-se como um profissional com diferentes práticas pedagógicas não só por criar parâmetros de atendimento, mas por não padronizar o ensino e nesta empreitada, garantir igualdade de condições que contemple indivíduos com NEE.
Objetivos
Geral:
• Promover as condições para a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais em todas as atividades da escola.
Específicos:
• Fixar as sequências gráficas de (palavras);
• Compreender e reconstruir um significado de um texto escrito;
• Reconhecer e identificar letras;
• Ajustar os temas simbólicos concordes: o sonoro e o gráfico;
• Expressar suas necessidades, seus interesses e sentimentos utilizando diferentes formas de linguagem;
• Desenvolver funcionalmente seu vocabulário;
• Realizar atividades perceptiva ou motora de forma autônoma.
CONTEÚDOS DO AEE
• Língua Portuguesa na modalidade escrita;
• Desenvolvimento de processos educativos que favoreçam a atividade cognitiva;
• Comunicação alternativa e aumentativa – CAA;
• Informática acessível.
METODOLOGIA
Para clarificar as ações realizadas no decorrer do processo, partimos da “proposição do caso à elaboração do plano de AEE”.
1ª Etapa
Inicialmente seguimos as “etapas” para a elaboração do plano de atendimento especializado de acordo com a necessidade específica de cada aluno:
• Apresentação do problema;
• Esclarecimento do problema;
• Identificação da natureza do problema;
• Resolução do problema.
Desta feita, partimos para a próxima etapa: conhecendo um pouco das dificuldades e potencialidades de cada aluno, começamos a desenvolver o plano, sinalizamos a importância da psicomotricidade para o aprendizado da leitura e da escrita.
2ª etapa
Apresentamos o livro de literatura contendo desenhos e texto, com o conto “Toca de gente, casa de bicho” do autor Mauro Martins (ilustrador: Flávio Fargas e da coleção: Ciranda) para que os alunos, individualmente, manuseassem-no. Após a familiaridade da criança com o livro, fazemos algumas perguntas relacionadas ao texto e as imagens.
Aqui também observamos como a criança com NEE comporta-se diante da orientação espacial em leitura, solicitamos que ela acompanhe o texto com o dedo, enquanto a professora faz a leitura.
No que concerne à oralidade, solicitamos que o aluno recontasse o conto e identificasse as causas e consequências da situação vivida pelos personagens. Nessa atividade, mesmo aqueles “alunos” que apresentam transtornos específicos da linguagem na área expressiva e/ou compreensão são estimulados a darem uma resposta dentro de sua lógica.
3ª Etapa
A partir do conto, propomos a confecção de um livro de pano com os desenhos contidos no livro. O mesmo foi apresentado e exposto para a comunidade escolar, em especial aos pais.
4ª Etapa
Paralelamente à interpretação da escrita, trabalhamos a distinção entre as letras e os números com alguns alunos. Utilizando jogos com figuras e letras para formar palavras, em que o aluno é solicitado a escolher as letras para formar o nome da figura, dentre as letras estão números, que também são identificados pelo aluno.
5ª Etapa
Foram realizadas atividades concernentes à identificação das letras que formam o nome e a interpretação das partes do nome próprio. Formamos o nome da criança utilizando as letras móveis de EVA, em seguida, solicitamos que ela componha o nome dela. Mostrando o nome dela, pergunte: O que é que está escrito? Você conhece esse nome? É o nome de quem? Em seguida, perguntar o nome das letras, alterar a ordem delas e verificar se, para a criança, o escrito alterado significa ainda seu nome. Esconder com um cartão uma parte do nome, perguntando a criança se a parte visível é seu nome. Concomitantemente às letras móveis, trabalhamos com o teclado do computador.
6ª Etapa
No momento da escrita, nós professores do AEE, transcrevemos a fala de alguns alunos que apresentam impedimento na escrita. Para os alunos que apresentam alterações da linguagem com maior incidência na área expressiva (por exemplo, dificuldade no ato motor da emissão oral) utilizamos a prancha de comunicação. Era observado a sua expressão. No entanto, alguns alunos que apresentam um processo de decodificação das palavras mais lento e se cansam quando leem conseguiram realizar a atividade (com ajuda). Aliado a isso, trabalhamos psicomotricidade, dando ênfase à importância da lateralidade, bem como sua autoestima, sempre elogiando suas atividades.
Em todas as atividades, mesmo aqueles alunos que apresentam transtornos específicos da linguagem na área expressiva e/ou compreensão eram estimulados a dar uma resposta.
7ª Etapa
No âmbito do projeto, desenvolvemos ações que possibilitassem as crianças a interagirem com a expressão corporal. Utilizando o recurso que a dança disponibiliza, enquanto forma de expressão artística e corporal, e ainda a poesia “A bailarina”, da autora Cecília Meireles, ocorreu uma apresentação de palco para a comunidade escolar. Uma criança com NEE, caracterizada de bailarina, ao ouvir a declamação do poema por outro aluno com NEE, realizou movimentos suaves de uma bailarina.
AVALIAÇÃO
Consideramos significativos os avanços alcançados e sabemos que “a importância da deficiência pode ser um fator importante quando se trata de conhecimentos que a criança deve construir por si mesma, a partir de relações que estabelece com o objeto de conhecimento.” (Figueiredo, 2012 p. 118).
Entendemos que as ações têm seu valor pedagógico, na ocasião em que possibilitam a concretização da aprendizagem.
Para uma flexibilização da organização escolar, visando ao bom funcionamento da educação especial, fez-se necessário programar ações e respostas específicas que deverão ir ao encontro as especificidades de cada educando.
A avaliação alcança diversos espaços do aluno: Sala de Recursos Multifuncionais - SRM, sala de aula regular e família.
As crianças com NEE progrediram em alguns aspectos relacionados à aquisição da leitura e da escrita, apesar do seu ritmo mais lento do que as ditas normais. Apresentaram três tipos de comportamentos descritos por Figueiredo (2012) com relação à utilização de esquemas de interpretação do nome: os oscilantes, os hesitantes e os consistentes. Ademais, a presença desses esquemas mostrou-se em todas as atividades.
Na sala de aula, as professoras relatam os avanços dos alunos em relação à atenção e a concentração, pois demonstram mais interesse e envolvimento nas atividades propostas.
Na SRM e no AEE observamos a análise da produção escolar dos alunos, usando-se como fontes seus cadernos, folhas de exercícios, desenhos e outros trabalhos.
O que os educandos aprenderam com o desenvolvimento do projeto:
• Conseguem ter controle de sua motricidade;
• Demonstram satisfação e interesse em produzir a escrita e valoriza sua própria produção;
• Vem melhorando a sua percepção em relação ao espaço, bem como a memorização das imagens reprodutoras, ou seja, ações vividas pelo aluno são simbolizadas no modo verbal e no modo gráfico (tentativas de escrever e falar as ações realizadas);
• Conseguem identificar e oralizar algumas letras do alfabeto em especial as vogais que compõem o próprio nome;
• Inicia a preocupação com as questões ortográficas. Produzem textos de forma convencional (com ajuda);
• Fazem leitura de imagem e utiliza-se das estratégias de leitura, por exemplo, estratégia de seleção, de antecipação, de inferência e de verificação.
Quanto aos procedimentos de avaliação, pode-se considerar a “observação” para a coleta de informação e de análise dos dados. Para nortear as ações, foram organizadas estratégias que possibilitassem os conflitos cognitivos tais como: capacidade de antecipação, estabelecer critérios e autoquestionamento.
Critérios de avaliação:
• Expressar oralmente o conhecimento do nome das letras e sequência das letras que compõem o próprio nome.
• Expressar suas necessidades, seus interesses e sentimentos utilizando diferentes formas de linguagem.
• Desenvolver a autonomia e a independência frente às situações-problemas, agindo inteligentemente de acordo com a sua lógica.
• Representar seu mundo criativamente, situando-se como pessoa, num mundo de pessoas.
Tendo em vista a importância da avaliação, consideramos seis aspectos principais: desenvolvimento intelectual e funcionamento cognitivo; a expressão oral; o meio ambiente; as aprendizagens escolares; o desenvolvimento afetivo-social e as interações sociais.
Para melhor orientar a aprendizagem dos educandos, fez-se necessária uma série de instrumentos de avaliação, como os questionários utilizados para obter informações sobre a personalidade e a história do educando, bem como o seu rendimento escolar antes e depois do projeto. Através dos questionários concluímos que as crianças gostam da escola, tem amigos e admiram os professores; os relatórios contendo as observações do professor do AEE que foram analisados em equipe para prever os encaminhamentos e ações metodológicas que promovam a aprendizagem das crianças com deficiência no contexto escolar educacional inclusivo.
As intervenções realizadas foram fundamentadas na interiorização da ação e destinadas a favorecer o desenvolvimento das estruturas intelectuais do educando. Foram mobilizados esquemas cognitivos ou linguísticos a partir da situação real de comunicação utilizando a sinalização (placas de comunicação e outros recursos), através de gestos ou expressões faciais e a postura do parceiro de comunicação que deverá fazer perguntas objetivas que valorizem as respostas.
A partir do que foi mencionado anteriormente, por se tratar de uma avaliação, propomos como estratégias de ação que auxiliem no processo de ensino aprendizagem: o ajustamento na rotina, o plano individual, a flexibilização do tempo e do espaço e, no currículo escolar, e um olhar mais direcionado para as possibilidades de cada educando para romper com a dicotomia existente entre educação comum e especial.
Auto avaliação
As contribuições do projeto contextualizam nossa realidade tanto no que concerne ao espaço escolar como no que abrange a dimensão social. Sempre partindo de realidades concretas (estudo de caso).
A proposta foi bem aceita pelo grupo, em todas as etapas havia um dado e fato novo que suscitava ainda mais a curiosidade das crianças, bem como a da professora. Fatores que ajudavam a contextualizar o ensino e habituar o público alvo a viver novas experiências educacionais.
O desafio maior, no entanto, reside como ensinar aquilo que eu quero que meu aluno aprenda. Essa vertente suscita a consciência dos nossos limites em relação ao conhecimento. Assim, a capacitação profissional constitui-se no pensar de qual melhor forma para meu aluno aprender aquilo que quero ensinar.
Nesse contexto, as parcerias foram de fundamental importância para garantir o acesso dos alunos com deficiência ao ensino regular, bem como na formação do professor que vai trabalhar com estes alunos.
Demonstrando um grande compromisso com a inclusão das pessoas com deficiência, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN desenvolveu o projeto de “Formação Continuada dos Professores das Salas de Recursos Multifuncionais” junto à coordenadoria de Educação Especial do Município; parceria do Centro de Atendimento aos Surdos - CAS que nos ofereceu formação na área de educação para surdos
de educação para surdos com o ensino da LIBRAS. Destacamos a parceria com o Dr. Francisco (psicólogo) que muito contribuiu com o atendimento educacional especializado. Nessa integralidade é pertinente ressaltar a importância de algumas famílias na parceria do trabalho.
Meu compromisso profissional foi atender as expectativas dos educandos independentemente de suas condições sociais, culturais e suas características individuais, buscando criar condições para que todos se desenvolvessem plenamente.
Atualmente, sou aluna de um curso de Educação a Distância – Especialização em Educação Especial- Formação Continuada para Professores para o Atendimento Educacional Especializado / AEE. Estamos no início do curso, mas venho percebendo que os temas propostos para estudos são pressupostos para avançarmos em direção a uma necessária coerência com uma concepção mais atual de ensino e aprendizagem numa perspectiva de escola comum inclusiva.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Direito à Educação – necessidades educacionais especiais: subsídios para atuação do ministério público brasileiro. Brasília; MEC/SEESP, 2001.
Figueiredo, Rita vieira de. Deficiência Intelectual: cognição e leitura/ Rita Vieira de Figueiredo. – Fortaleza: Edições UFC, 2012.
Inclusão: Revista da educação especial ano III/ NºB 4 Aprender e conviver na diversidade Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Brasília: Junho de 2007.
LE BOULCH, Jean. Educação psicomotora: psicocinética na idade escolar; trad, de Jeni Wolff. – Porto Alegre: Artmed, 1987.
Ropoli, Edilene Aparecida. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar a escola comum inclusiva/ Edilene Aparecida Ropoli... [et. al.]. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do ceara, 2010.